Ponte sobre o igarapé Caranã impacta meio ambiente
- portaufrr
- 6 de mar. de 2017
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A construção, pela Prefeitura de Boa Vista, de uma ponte de 20 metros de comprimento interligando os bairros Jardim Caranã e Cidade Satélite tem sido motivo de controvérsia entre os moradores do entorno e ambientalistas. Ninguém discorda que a interligação dos bairros por meio da obra terá um efeito positivo para as duas comunidades. No entanto, há discordância quanto aos cuidados adotados pelo município parra preservar a fauna e a flora do entorno. O impacto ambiental tem levantado questionamentos.
O projeto de mobilidade urbana está orçado em R$ 30.180.543,16. São recursos oriundos de convênio com o Governo Federal. Moradores e curiosos vão quase que diariamente ver o andamento da obra. Para alguns deles, entrevistados pela reportagem, a construção da ponte é um sinal de progresso do bairro. Outros temem que o meio ambiente fique prejudicado e que os animais que fazem parte da paisagem natural do bairro desapareçam por completo.
Segundo relatos de moradores mais antigos, tem sido comum o aparecimento de animais silvestres como como macacos, jacarés, tamanduás e capivaras, no perímetro urbano da área. A legislação prevê a necessidade de ações mitigadoras, neste caso específico, o remanejamento dos animais que perambulam pelos bairros circunvizinhos da construção da ponte, deveria integrar uma proposta clara de ação. Um Estudos de Impactos Ambientais (EIA) possibilitaria o manejo adequado destes animais, inclusive sua remoção para outras áreas menos afetadas pelo processo descontrolado de urbanização de Boa Vista.

A dona de casa Maria Benilde, que mora no Caranã há mais de 20 anos, por exemplo, disse que antigamente era comum aparecerem animais como pacas e tamanduás, mas, segundo ela, depois do início dos trabalhos, esses animais desapareceram da região. Ela é uma das pessoas que comemoram a construção da ponte. Para Maria impacto ambiental não tem lá muita importância. “Com a construção dessa ponte vai ficar é bom. Nossas casas vão ficar mais valorizadas”, diz.
O pedreiro Guilherme Simões demonstra certa preocupação com a preservação da mata ciliar do igarapé e com os animais silvestres, que podem ser atropelados pelas passagens dos carros pelo local. Mas ele diz que com a colocação de grades de proteção “como aconteceu na área em que foi construído o shopping center” esse problema poderá ser evitado. “É bom adotar medidas para preservar o meio ambiente”, afirma ele.
Quem parece ter sentido o impacto da construção da ponte, de forma mais profunda, foi a adolescente Mikaely S. Alves. Nos seus 15 anos de idade, ela tem boas recordações do tempo em que tomava banho nas águas do Igarapé Caranã. Agora o curso d’água está poluído. Mikaely diz ter percebido que, depois da obra, o volume de água do igarapé está diminuindo. “Como eles abriram o leito do Igarapé com o uso de máquinas para fazer a ponte, a água passou a escoar mais intensamente e agora ele parece estar secando”, afirma. “Agora não tem mais peixe porque a água está bem fraquinha”, completa, salientando que quando era criança havia bastante peixe por lá.
O igarapé caraná possui sua nascente localizada em lagos, onde foi construído o Conjunto Cruviana. Cortando 10 bairros da capital do Estado possui uma grande importância a biodiversidade da cidade. Permitindo uma rede natural de drenagem, contribuindo diretamente a manutenção do lençol freático e manutenção da fauna e da flora.

O Conselho Nacional de Meio Ambiente, através da resolução 01/1986 estabeleceu normas sobre a obrigatoriedade da realização de EIA. Sendo o Igarapé Caraná um dos principais afluentes do rio Cauamé, obrigatoriamente este estudo deve ser realizado e disponibilizado a população.
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